1890
Por Marco Antônio Deprá
A imigração ucraniana no Brasil começou no final do século XIX, com os primeiros imigrantes chegando em 1891.
A maioria dos ucranianos veio da Galícia, região histórico-geográfica da Europa centro-oriental. Foi parte do Império Austríaco, que de 1864 a 1918 era denominado Império Austro-Húngaro. Atualmente, seu território é dividido entre a Polônia e a Ucrânia.
Imagem 1 – Google Earth – Em branco, a antiga Galícia, cujo território era formado por áreas dos atuais territórios da Polônia (azul) e da Ucrânia (amarelo).
Imagem 2 – Google Earth – Em azul escuro, a área da atual Polônia que fazia parte da antiga Galícia. Nesta área encontra-se Cracóvia, a cidade mais populosa da região. Em laranja a área da atual Ucrânia que fazia parte da antiga Galícia. Nesta área encontra-se Lviv, a cidade mais populosa da região.
A partir da década de 1880, ocorreu uma emigração em massa de habitantes da zona rural da Galícia. A emigração começou como sazonal, para a Alemanha, recém unificada e economicamente dinâmica, e, depois, se tornou transatlântica, com emigração em larga escala para os Estados Unidos, Canadá e Brasil. O início da imigração em massa de galícios ucranianos para o Brasil ocorreu a partir de 23/08/1891, com a chegada dos primeiros imigrantes ao Rio de Janeiro, oriundos da cidade de Zolotiv, região de Lviv, na Galícia, e, após 45 dias, chegaram ao sul do Paraná, onde foram instalados em colônias agrícolas no vale do Rio Iguaçu. As duas primeiras colônias oficiais criadas em 1891 foram: Colônia Santa Bárbara, no atual município de Palmeira (PR), povoada por poloneses, ucranianos e italianos; e Colônia Rio Claro, no atual Município de Mallet (PR), colonizada por poloneses e ucranianos. As duas primeiras grandes ondas provenientes da Galícia ocorreram nos anos de 1895 e 1896, quando mais de cinco mil famílias de agricultores ucranianos chegaram ao Paraná. A partir de 1908, grupos de ucranianos chegaram durante a construção da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande. Os imigrantes foram atraídos pelo governo brasileiro, que chegava a pagar as passagens de navio e as despesas de alimentação para a realização da obra. Poloneses e ucranianos foram se instalando às margens da então ferrovia em construção, no percurso entre Ponta Grossa e União da Vitória, no Paraná, e em municípios da região norte do Estado de Santa Catarina. Até o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, haviam chegado ao Brasil cerca de 45 mil ucranianos, em sua maioria, vindos da Galícia.
Imagem 3 – Google Earth – Mapa das regiões sul e sudeste do Estado do Paraná, que mostra, em vermelho, as regiões onde os imigrantes ucranianos foram assentados em colônias rurais, de 1895 a 1914, ano em que eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Muitas das colônias foram instaladas ao longo da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (em verde), nos vales do Rio Iguaçu (em azul claro) e de seu tributário, o Rio Negro (em azul escuro).
O processo de imigração foi retomado após o término da Segunda Guerra Mundial, quando novas levas de ucranianos chegaram ao Brasil, a partir de 1945. Os novos imigrantes foram assentados nas regiões centro-sul, centro-ocidental, norte-central e sudoeste do Estado do Paraná. Em 1951, o Brasil recebeu a última grande leva de imigrantes ucranianos.
Imagem 4 – Google Earth – O mapa do Estado do Paraná mostra, em vermelho, as regiões aonde os imigrantes ucranianos, chegados entre 1945 e 1951, foram assentados, após o término da Segunda Guerra Mundial. Muitas dessas colônias ficavam na região entre os rios Piquiri e Ivaí.
Os descendentes de ucranianos no Brasil constituem hoje uma comunidade de mais de 500 mil pessoas e estão localizados, em sua maioria (cerca de 80%, ou seja, acima de 400 mil), no Paraná, e os demais (cerca de 100 mil) principalmente ao norte de Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Brasília e Minas Gerais.
No Paraná, a maior concentração de ucranianos e seus descendentes encontra-se em Curitiba, com aproximadamente 55.000 pessoas (cerca de 3% da população local).
O maior percentual local ocorre no Município de Prudentópolis, onde numa população de aproximadamente 50 mil habitantes, os ucranianos e seus descendentes somam mais de 38 mil, ou seja, cerca de 75% das pessoas.
Em diversos municípios do Paraná, o percentual de descendentes de ucranianos também é alto:
Mallet: 60%;
Paulo Frontin: 55 %;
Ivaí: 45%;
Antônio Olinto: 45%;
Rio Azul: 30%;
Roncador: 30%;
União da Vitória: 25%;
Paula Freitas: 25%;
Cruz Machado: 20%;
Pitanga: 20%; e
Irati: 12%.
Há que se destacar a importante contribuição dos ucranianos e seus descendentes na colonização e no desenvolvimento da agricultura no centro-sul do Paraná e no centro-norte de Santa Catarina, com o início do plantio de centeio, trigo e outros cereais. Também foram importantes na implantação do sistema de cooperativas e no desbravamento e desenvolvimento dessas regiões.
Uma das principais marcas da tradição e da cultura do povo ucraniano no Brasil é a sua religiosidade. A grande maioria faz parte do catolicismo: apenas 5% são ucranianos ortodoxos, que não aceitam a influência de Roma e seguem o rito latino.
A Igreja Ucraniana Católica no Brasil é a maior organização comunitária de cunho religioso e cultural entre os ucranianos no País, onde está presente desde 1896. Atualmente, a sua hierarquia é composta pelo bispo eparca e 2 bispos auxiliares.
Sua estrutura é composta de 25 paróquias, 236 igrejas, com 21 padres diocesanos e 62 padres da Ordem de São Basílio Magno atuando no Brasil e 13 no exterior. A destacar também suas cinco congregações religiosas femininas:
Irmãs Servas de Maria Imaculada;
Irmãs Catequistas de Sant’Ana, congregação fundada na localidade de Vera Guarani, município de Paulo Frontin (PR);
Irmãs Basilianas;
Irmãs de São José; e
Instituto Secular do Sagrado Coração, organização fundada em Prudentópolis (PR).
A Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, tem 1 arcebispo, 2 protopresbíteros mitrados e 8 padres, 4 subdiáconos, 18 igrejas e 2 padres atuando fora do Brasil.
A religiosidade dos católicos ucranianos está materializada em 236 igrejas existentes no País. Destas, 220 foram construídas no Paraná. São verdadeiras relíquias, em sua grande maioria construídas em madeira, que estão escondidas pelo interior do Estado, muitas desconhecidas por grande parte dos próprios paranaenses.
Vinte e cinco dessas igrejas foram catalogadas em um dossiê arquitetônico que virou livro, intitulado Igrejas Ucranianas: arquitetura da imigração no Paraná, dos arquitetos Fábio Domingos Batista, Sandra Magalhães Corrêa e Marialba Gaspar Imaguire. A obra é do Instituto Arquibrasil.
As mais antigas são:
São Miguel Arcanjo, construída entre os anos de 1897 e 1901, na localidade de Serra do Tigre, no distrito de Dorizon, no município de Mallet;
Divino Espírito Santo, construída em 1903, na localidade de Jangada do Sul, no município de General Carneiro (PR); e
Imaculada Conceição de Nossa Senhora, construída entre 1902 e 1917, em Antônio Olinto.
A Secretaria de Cultura do Estado do Paraná tombou como Patrimônio Cultural do Estado do Paraná as seguintes igrejas:
São Josafat, de Prudentópolis, construída em alvenaria entre os anos de 1922 e 1932. Foi inscrita no Livro Tombo em 13/03/1979;
São Miguel Arcanjo, a mais antiga do Paraná, tendo sido construída, em madeira,entre 1897 e 1901, na localidade de Serra do Tigre, Distrito de Dorizon, Município de Mallet. Foi inscrita no Livro Tombo em 04/05/1982;
Imaculada Conceição de Nossa Senhora, construída entre 1902 e 1917, no município de Antônio Olinto, tombada em 08/11/1999.
Duas delas estão em processo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan): Igreja da Imaculada Conceição de Nossa Senhora; e Igreja São Miguel Arcanjo.
Colônia Pequena – Antônio Olinto
Uma das mais antigas e tradicionais colônias de imigrantes ucranianos está situada na região centro sul do Estado do Paraná a 142 quilômetros de Curitiba. Seu processo de povoamento começou através do Serviço de Colonização do Estado do Paraná. No ano de 1895, o diretor Cândido Ferreira Abreu dividiu uma extensa área em 400 lotes de 10 alqueires e destinou-os aos imigrantes poloneses e ucranianos. Os pioneiros da região foram 18 famílias polonesas e, em seguida, começaram a chegar as primeiras famílias de ucranianos.
A localidade era conhecida como Colônia Pequena, que pouco tempo depois já contava com mais de 374 famílias ucranianas e 84 polonesas. Com esse crescimento, em 1902, recebeu a implantação de um distrito policial e a denominação de Antônio Olinto, em homenagem ao engenheiro, jornalista e político mineiro Antônio Olinto dos Santos Pires, Ministro dos Transportes do Brasil, ente 1894 e 1896, e que foi um dos responsáveis pela colonização ucraniana no Brasil.
Imagem 5 – Google Earth – Antônio Olinto (antiga Colônia Pequena) é uma cidade situada na região sudeste do Estado do Paraná, próxima à cidade de São Mateus do Sul e à divisa com o Estado de Santa Catarina.
Imagem 6 – Google Earth –O território do município de Antônio Olinto (em branco) tem como divisa norte o Rio Iguaçu e como divisa sul o Rio Negro, que faz a divisa entre os Estados do Paraná e Santa Catarina. Sua população, de acordo com o Censo IBGE 2022, era de 7.018 habitantes.
Imagem 7 – Google Earth –A cidade de Antônio Olinto está a cerca de 30 km de São Mateus do Sul e a 73 Km de Lapa, município do qual se desmembrou em 25/07/1960.
A Igreja da Imaculada Conceição de Nossa Senhora
A Igreja da Imaculada Conceição de Nossa Senhora é um testemunho da imigração ucraniana em terras paranaenses e de inestimável valor cultural e histórico. Foi a terceira igreja do rito ucraniano de tradição bizantina reconhecida como Patrimônio Cultural Estadual, tombada em 08/11/1999.
Situada no município de Antônio Olinto, na localidade denominada de Linha Munhoz, foi construída pelos fiéis sob a orientação do Padre João Inocêncio Michalczuk, ucraniano que chegou ao Brasil em 1911, faleceu em 13/07/1950 e está sepultado no cemitério ao lado da Igreja.
Erguida em madeira imbuía, no estilo arquitetônico bizantino, possui torres sobre os telhados, com base octogonal, cobertas com cúpulas que parecem a silhueta de uma pêra, feitas de folhas de bronze pintadas na cor prata. O campanário foi construído, à parte, ao lado da igreja.
Suas obras tiveram início em 1902 e foram concluídas em 1917. Em seu interior, há um excelente conjunto de arte sacra trabalhada em madeira.
Administrativamente, a igreja está ligada à Eparquia Ucraniana de São João Batista, com sede na cidade de Curitiba (PR). Ao lado da igreja está instalada uma casa da Congregação das Irmãs Servas de Maria Imaculada, a qual tem a incumbência de cuidar da igreja e da residência paroquial.
Ao longo dos anos, foram feitas inserções na edificação original, com a construção de três anexos em alvenaria: dois nas laterais e outro nos fundos, para abrigar a imagem de Nossa Senhora dos Corais.
O primeiro passo para ser tombada como Patrimônio Histórico Nacional foi dado em 05/11/2007.
Em novembro de 2008, teve início a restauração da parte externa da Igreja com recursos financeiros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ligado ao Ministério da Cultura. Foi a primeira igreja do Paraná a receber verbas federais para o seu restauro.
Atualmente, aguarda-se uma resolução para o restauro da parte interna da mesma.
A Igreja também é conhecida como Santuário de Nossa Senhora dos Corais, por abrigar a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, bordada em ouro e cravejada com pedras preciosas. O Santuário Nossa Senhora dos Corais foi criado em 20/11/2016, com as bênçãos do Arcebispo Metropolita D. Volodemer Koubeth OSBM, que nomeou como reitor o Padre Mario Ciupa.
Imagem 9 – Google Earth – A Igreja da Imaculada Conceição de Nossa Senhora está localizada na zona rural, a 1,2 Km ao sul da cidade de Antônio Olinto.
No entorno da igreja há diversas edificações, onde são desenvolvidas atividades religiosas, educacionais, sociais e recreativas da comunidade ucraniana da região:
Campanário;
Residência paroquial;
Casa das Irmãs Servas de Maria Imaculada;
Gruta Nossa Senhora de Lourdes;
Cemitério;
Escola; e o
Galpão de festas
Imagem 10 – Google Earth – Imagem do complexo de construções no entorno da Igreja da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, onde são desenvolvidas atividades religiosas, educacionais, sociais e recreativas da comunidade ucraniana da região.
Fontes: Acervo de imagens de Marco Antonio Deprá
Revisão do texto: Flávio Augusto de Carvalho
Marco Antonio Deprá
Maringá (PR), 09/06/2025
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E-mail: madepra@uol.com.br
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