Londrina

A Serraria Curotto

1945

Na confluência da antiga estrada dos Pioneiros com a trilha dos japoneses — hoje, avenidas Celso Garcia Cid e Paul Harris — fincou-se, entre pó de serra e suor, a história da Serraria Curotto Ltda. A foto dos anos 1950 registra um momento em que o aroma da peroba-rosa recém-cortada se confundia com o cheiro da terra vermelha molhada pela serração da manhã londrinense.

Fundada em 1945 por Adolfo Curotto, um paulista que chegou a Londrina em 1937, a serraria foi uma das protagonistas silenciosas do ciclo madeireiro que sustentou economicamente a cidade antes da monocultura cafeeira assumir o protagonismo. Adolfo demonstrava técnica e zelo na extração da madeira, respeitando os ciclos lunares, especialmente no caso do cedro, uma madeira valorizada por sua resistência e beleza. Da lua nova vinha a seiva contida e, com ela, a madeira mais durável. A sabedoria dos Curotto — passada de pai para filhos — ganhou fama em São Paulo, onde eram conhecidos como “os reis do cedro”.

A serraria não era só um negócio. Ao seu redor se desenvolveu uma microcomunidade: casas simples para os operários, um escritório funcional e o movimento constante das carroças que levavam os dormentes e tábuas para os vagões de trem, com destino à Serraria Americana de Salim Maluf ou às exportações para Inglaterra e França. O trabalho era bruto e o ritmo intenso, mas o espírito era de construção: literalmente, da cidade que ainda surgia.

A imagem, com sua torre de madeira erguida como um obelisco de tempos industriais, revela a simbiose entre a floresta domada e a cidade erguida. Hoje, onde ruídos de serra ecoavam, sobram memórias, mas a história permanece viva, talhada a cada lâmina que girou naquele chão vermelho.

Fontes: Londrina e Norte do PR: Memórias e Fotos Atuais, página no Facebook / Antônio Carlos Zani. Repertório Arquitetônico das casas de madeira de Londrina-PR. 2005 / Acervo Londrina Histórica.