A imagem, registrada pelo fotógrafo José Juliani na década de 1930, é um convite à contemplação e à reflexão. No caminho de terra batida que ligava Londrina a Ibiporã, a “catita” — veículo pioneiro da Viação Garcia, adaptado para o transporte de passageiros — repousa sob a sombra acolhedora de uma monumental figueira branca. À beira da estrada, viajantes sentam-se sobre o mato, talvez partilhando histórias ou apenas aliviando o corpo cansado pela longa e lenta travessia.

À época, percorrer essa estrada era uma experiência tanto física quanto sensorial. A beleza da mata, com árvores centenárias como o palmito-jussara e a própria figueira branca, oferecia um cenário de rara grandiosidade. Mas bastava uma chuva para transformar o trajeto em uma epopeia de dias. Os atoleiros eram implacáveis, e os veículos improvisados precisavam de paciência e empurrões para seguir viagem. Ainda assim, esse caminho era vital: era por onde pulsava o início da vida urbana de Londrina.

A figueira branca da imagem — de tronco imenso e copa generosa — se tornou referência geográfica e emocional para os primeiros viajantes e colonos. Ponto de parada e de encontros, era uma espécie de marco natural entre a civilização nascente e a vastidão da floresta. Foi sob árvores como essa que os pioneiros encontraram sombra, orientação e até fé, numa terra onde tudo ainda era incerteza.

Hoje, essa estrada foi asfaltada, modernizada e absorvida pelo tempo urbano. As figueiras foram derrubadas, os jussaras silenciaram, mas o espírito da travessia permanece. A imagem, resgatada do acervo do Museu Histórico de Londrina, é memória viva de um tempo em que a chegada à cidade exigia mais do que combustível: exigia coragem, esperança e uma dose de reverência à natureza.

Fontes: Acervo José Juliani, Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss / Acervo Londrina Histórica.

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