O instante capturado na imagem revela muito mais do que uma simples esquina urbana. Estamos na Londrina da década de 1970, no cruzamento da avenida São Paulo com a alameda Miguel Blasi, emoldurado pelo verde das árvores da praça Floriano Peixoto, com o majestoso edifício América — o popular “Relojão” — erguendo-se ao fundo como sentinela do tempo. Ao lado direito, oculta na foto, está a Catedral Metropolitana.

Mas o protagonismo da cena está mesmo na dança tranquila dos veículos. Uma sinfonia sobre rodas, composta por fuscas, brasílias, corcéis, kombis e camionetes C10, desenha um retrato fiel do trânsito de outrora: poucos carros, todos singulares. O vermelho vivo do fusquinha que avança ao centro da imagem salta aos olhos como um grito de personalidade, algo raro nos dias de hoje, onde os tons monocromáticos dominam as avenidas. Naquela época, era possível ver o laranja queimado, o azul pavão, o amarelo gema. Cada carro parecia uma extensão da alma de seu dono, em tempos em que o automóvel ainda era um símbolo claro de ascensão.

As pessoas atravessam a rua calmamente, algumas em grupo, outras com sacolas, em passos despreocupados. Nada de pressa. A cidade, apesar de crescer, ainda permitia espaço para os encontros espontâneos e o tempo vivido com vagar. Os postes de iluminação e os fios visíveis recortam o céu azul intenso como traços de um quadro expressionista. Há um silêncio sugerido na imagem, mas quem viveu aquela Londrina sabe que o ruído dos motores, o tilintar dos sinos da Catedral e o burburinho das ruas completavam essa cena de forma sonora.

O cruzamento permanece até hoje praticamente intacto em sua estrutura física, mas a Londrina atual é veloz, diversa, vertical. Ainda assim, nas esquinas do tempo, mora a nostalgia.

Fontes: Londrina e Norte do PR: Memórias e Fotos Atuais, página no Facebook / Acervo Londrina Histórica.

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