1930
Viajar de trem entre as décadas de 1930 e 1950 em Londrina era mais do que uma experiência de transporte; era um ritual com cheiro de lenha queimada, às vezes roupas chamuscadas e olhos atentos ao fogo. Enquanto as locomotivas da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná (SPP) venciam lentamente o trajeto entre Ourinhos e Maringá, a cerca de 40 km/h, os passageiros enfrentavam desafios que iam além do balanço dos trilhos.
Ao contrário das locomotivas a carvão, a lenha — abundante, barata e de baixo rendimento calórico — produzia grande quantidade de fagulhas incandescentes, que voavam pelas janelas abertas dos vagões. Era comum que os viajantes optassem por roupas velhas, especialmente nos vagões de madeira: o calor do interior, em dias abafados, impedia que as janelas ficassem fechadas, expondo todos ao risco de queimaduras discretas, mas frequentes. Para muitos, o fim da viagem incluía, além da bagagem, roupas furadas pelas cinzas.
O problema não parava nos vagões. Ao longo da linha férrea, a SPP mantinha verdadeiras “brigadas da lenha”: trabalhadores encarregados de vigiar e apagar focos de incêndio iniciados pelas fagulhas. Com vassouras improvisadas de mato verde, abafavam os pequenos incêndios. Em um tempo sem extintores, o chefe do trem tinha como recurso um balde de areia e muita vigilância.
Apesar de rústica, a rede ferroviária movida a vapor foi um motor de desenvolvimento. A lenha alimentava caldeiras, mas também sonhos. Cada estação, abastecida com enormes pilhas de madeira, era também carregada de expectativas: passageiros que desciam para refeições rápidas, esticavam as pernas ou aguardavam o próximo embarque, sabedores de que, mesmo entre fagulhas, estavam no coração de uma nova fronteira.
Fontes: Blog Londrina Histórica / Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss / Acervo Londrina Histórica.
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