Em 1936, quando um trecho da rua Jatahy — hoje Pio XII — se projetava tímido entre a mata ainda úmida, Londrina era uma promessa recém-esboçada sobre a terra vermelha do Norte do Paraná. A fotografia feita por José Juliani, uma das primeiras a registrar essa via da cidade nascente, é um mergulho no tempo: um tempo de madeira, terra batida e esperança.

O cenário é de um silêncio construído. Ao centro da imagem, uma via de terra se estende em linha reta, como se conduzisse o olhar diretamente ao ponto mais simbólico do nascente município: a Igreja Matriz, construída em madeira, que antecede a atual Catedral Metropolitana. Ao longo da rua, casas simples, alinhadas quase à força ao relevo natural do terreno, parecem esboços de civilização diante da floresta que ainda domina o entorno. À esquerda, uma cerca rústica de palanques demarca um terreno.

O nome original da rua homenageava a cidade de Jatahy (hoje Jataizinho), com quem Londrina mantinha uma ligação direta por picada e tropeiros. Era por essa estrada de chão cru que se davam as primeiras trocas comerciais e se arrastava o progresso, puxado a boi e braço. A estrada ainda era mais promessa do que caminho, e o comércio, mais intenção do que estrutura.

A imagem, em preto e branco, reforça a dramaticidade do contraste entre a floresta e o traçado urbano: o avanço da cidade se impõe, mas não sem resistência. Galhos cortados, troncos caídos e tocos expostos ao lado direito da via lembram cada metro conquistado pela expansão urbana.

Hoje, a Pio XII é vitrine de lojas, cafés e de um ritmo urbano intenso. Mas essa imagem de 1936 é um lembrete da origem singela de uma cidade que nasceu à margem da mata e à beira de seus próprios sonhos.

Fontes: Acervo José Juliani – Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss / Acervo Londrina Histórica.

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