Na primeira fotografia, a avenida Rio de Janeiro ainda é chão batido: pedras soltas, sulcos de roda e um meio-fio recém-marcado. Uma carroça puxada por animal divide parte da cena com um poste de madeira e o vazio da quadra. À direita, o sobrado de esquina se impõe com a curva típica do Art Déco: platibanda alta, frisos horizontais e pequenas sacadas que ritmam as janelas do pavimento superior. No térreo, a sequência de vãos cria um “passeio coberto” antes mesmo de a rua tornar-se um dos principais pontos de comércio e passeio da cidade poucos anos depois.

A fotografia foi tirada, provavelmente, entre 1942 e 1943. A esquina funciona como um ponto de apoio para entender quando o traçado começou a virar infraestrutura. O Art Déco londrinense costuma ser lembrado como estilo; aqui, ele aparece como estratégia urbana. Em 1939, um decreto municipal proibiu casas de madeira em vias principais, e a alvenaria ganhou valor de modernidade. Na rua Sergipe, estudos e levantamentos descrevem como essas fachadas, com geometria e curvas, ajudaram a consolidar uma identidade visual do centro comercial.

A segunda foto (2025), numa outra perspectiva, atualiza o quadro sem apagar o traço. O sobrado permanece no primeiro plano, com o desenho da platibanda preservado e a volumetria ainda legível. Atrás dele, surgem camadas posteriores do centro: a antiga rodoviária (hoje Museu de Arte de Londrina), inaugurada em 1952 e associada ao projeto de Vilanova Artigas, e, adiante, o Museu Histórico de Londrina Padre caros Weiss instalado na antiga estação ferroviária, ocupada pelo museu desde 1986.

Londrina guarda outros sobrados Déco na Duque de Caxias, na rua Brasil, na Celso Garcia Cid. O que esta esquina ensina é mais simples: a cidade muda o horizonte, mas certos prédios seguem funcionando como régua, não só de estilo, e sim de tempo.

Fontes: Projeto Educação Patrimonial (caderno “Rua Sergipe: patrimônio cultural londrinense”) / Gazeta do Povo (Lei Cidade Limpa e Art Déco em Londrina, 2011) / Acervo Londrina Histórica.

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